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Ensino Superior no Brasil e no Mundo

sábado, 24 de março de 2012

Educação e Sociedade Planejada

Parece-nos que a palavra de ordem, na vida de alguém que se propõe a trabalhar com Educação, deve ser, antes de algumas outras: sensibilidade. Parece ser o “mote” para superar as dificuldades; alcançar metas, e objetivos; e estar em condições de recorrer a tudo que possa contribuir, positivamente, para a formação de um, ou mais indivíduos. O educador sensível (perdoem-me a redundância!) é capaz de “filtrar” os vários “ruídos” que poderão vir a interferir na formação integral de quem quer que seja. E essa sensibilidade se revela, indo além, nos recursos didático-pedagógicos, aos quais é capaz de recorrer, e da cultura geral, para fazer a diferença.


           No que concerne à questão das competências, é importante que estejamos inteirados do que entendemos, conceitualmente, por este termo. E isso assume relevância quando é possível pensar em um conceito que possa levar educadores, gestores, e pessoas que pensam políticas públicas, em termos de ensino, a sobreporem a experiência prática do professor-educador, numa relação direta com os alunos, em detrimento de um embasamento teórico de relevo.
           Outro conceito que precisa ser estudado, e, amplamente, discutido, é da globalização. Por quê? Por que ele está, direta, e intrinsecamente, ligado às formações de políticas educacionais, cujos currículos que têm por base a questão das competências, são formados com base nesse conceito, e atendem, inequivocamente, aos interesses econômicos de Estados, e empresas que determinam os rumos de boa parte do mundo. No mais das vezes, os discursos são uma “colcha de retalhos” que tentam recontextualizar o que foi desconstruído, em outras sociedades, e que podem vir a servir a determinados interesses, em sociedades que não viveram, tais revoluções, ainda.
           E é aqui que o currículo assume importância ímpar. Ele é, em última instância, o documento que refletirá o conjunto de conhecimentos, ideias, princípios, filosofias, e teorias que formarão o perfil desejado de cidadãos-profissionais, pensados, e planejados, por instituições privadas e governamentais de boa parte do mundo “civilizado”. De certa forma é como se estivéssemos relendo a obra Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Nesse livro, Huxley, ficcionalmente, e não menos real, por isso, fala de uma sociedade onde as pessoas são planejadas, em laboratórios, e seus recursos físicos, e cognitivos, também. Se o sistema precisa de trabalhadores braçais, os laboratórios produzirão seres humanos com massa cefálica suficiente, apenas, para processar o necessário à execução de tarefas pesadas, e mecânicas, essencialmente. Se o sistema deseja mais professores, ou cientistas, os laboratórios produzirão, in vitro, pessoas com maior capacidade de raciocínio. E assim por diante.
           Em linhas gerais, as sociedades, e seus sistemas, são planejados, em maior, ou menor escala. É uma ditadura sutil, subjetiva, e marcadamente, simbólica. Mas, pode ser bem explícita quando encontramos professores, e gestores educacionais, bem como gestores, em termos amplos que entendem, e desenvolvem, “ações educacionais” de maneira autocrática. No filme A voz do coração, a figura do diretor, simboliza o que acontece no mundo real, em larga escala. A ponto de assistirmos, escandalizados, Planos de Cargo, Carreira, e Salários, pensados, elaborados, e aprovados segundo a lógica das instâncias de governo. E quando há uma discussão que inclui a categoria dos professores, ela é conduzida pelos representantes do Executivo Municipal.
          O educador ainda carece de uma consciência que o faça perceber a suprema necessidade de refletir sobre a obrigatoriedade de manter-se, permanentemente, em formação, e de que esse processo ocorre, prioritariamente, na escola, em sentido amplo; mas, no mundo que o cerca, como um todo; e é fundamental perceber o professor ao longo de toda a sua vida. O professor experiencia várias fases, e contextos, e precisa ser visto, e considerado, levando-se esses períodos, em conta.
           Como fazer com que sejamos capazes de oferecer aos nossos alunos uma formação integral, quando nós não a tivemos? O ditado popular diz que não se pode dar o que não se tem. Nada mais sábio, num certo sentido. Num outro sentido, sabemos que é possível conseguirmos o que não tivemos, em um momento futuro. E é com base nisso que devemos procurar interferir nas reuniões de conselhos, e tantas outras mais, no sentido de fazermos a comunidade escolar, e o sistema educacional, mais além, verem que a formação “sólida” de um aluno passa por bem mais do que o currículo obrigatório. Várias outras formações (dança, teatro, música, escrita, artes plásticas etc), contribuem, decisivamente, para a “construção” de um ser humano mais equilibrado, mais crítico, mais capacitado para compor uma sociedade, cada vez mais, humana.


                      Escrito por: Eng. Agrônomo e aluno de Letras Armistrong de Araújo Souto

4 comentários:

  1. Esse texto faz uma interessante discussão sobre conceitos relacionados ao planejamento de uma sociedade e de sua educação. O ponto que mais me chama a atenção diz respeito à referência que o autor faz ao livro "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley. Essa obra foi publicada lá em 1932, mas as ideais então exploradas ainda permeiam a realidade corrente no sentido de ajudar a pensar sobre o que pode ser considerado certo ou errado em nome de uma suposta organização coletiva.

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  2. O educador tem que conviver com a dicotomia de possuir mais experiência que os formando mas se ressentir de uma certa impermeabilidade de novas ideias. O educador deve ser um eterno inconformado: cada nova etapa de formação de novos profissionais deve ser um novo desafio, buscando exemplos atuais junto com conceitos consolidados.
    Muito importante, os fundamentos das disciplinas devem ser transmitidos sem descurar dos conteúdos que devem ser repassados. O código binário que movimenta os computadores é fruto de uma obra de 1666 (Leibinitz)que não envelheceu com o tempo e está, a cada dia, mais moderno.
    Manter-se eternamente em formação é manter-se eternamente em discussão, reflexão, atualização. O educador jamais estará formado. É alguém sempre inacabado, não finalizado. Quem acha que não tem mais o que aprender é porque não tema mais nada a ensinar.

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  3. Ideias bastante pertinentes para reflexão.

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  4. Vejo que, a ideia de pessoas planejadas em laboratório é a mais adequada a nossa falsa felicidade. Por que falsa? Digo isso, porque seria hipocrisia dizer que esta tudo bem e que as coisas estão em seu perfeito equilíbrio. Bom ou ruim, as coisas estão se movendo, mas por opção, em passos democráticos.

    Quando pequeno, ouvi alguns dizerem: Existem alguns caminhos na vida para o sucesso! Sucesso esse que, hoje, é relativo apesar das diversas opiniões. Fazer o que se gosta ou ter dinheiro para o padrão de vida tão sonhado? Ou vendido pela mídia?

    É muito fácil criticar o sistema ou as escolhas das pessoas, mergulhar no seu ego e despejar toneladas de teorias que podem ou deveriam mudar o mundo dentro da sua realidade e oportunidades. Mas esquecemos do básico, dos princípios iniciais, e não me diga, que não faz parte deste mundo que criamos juntos.

    O mudança começa em cada pai e mãe deste país, dentro de cada lar. Somos a maior referência (demonstração de responsabilidade) que um filho ou sucessor pode ter e a mais omissa parte, deste criticado sistema.

    “Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos, mas também pelo que deixamos de fazer – Moliére”.

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